41. EXPERIÊNCIAS VIVIDAS: HELIPONTO – FÁBRICA SANTA HELENA

Seu Orcelio Carvalho era o funcionário mais antigo de toda a Votorantim Cimentos em atividade, aos 87 anos de idade. Era também, amigo pessoal do Dr. José Ermirio de Moraes. Era ainda naquela época que eu o conheci, uma verdadeira “rocha”! Na recepção que foi feita com a minha chegada para Gerente Geral das Fábricas de Santa Helena e Salto eu o conheci e imediatamente ele me cativou pela sua lucidez e jovialidade. Virou meu grande amigo e guru, pois ele era muito sábio! Dentre outras atividades, cuidava da equipe de limpeza e logo depois, era também o líder de um grupo de presidiários em regime semiaberto, composto de 25 pessoas.

Imagino que esteja intrigado sobre o que fazíamos para ter incorporado esse TIME ao nosso. Mas vai entender rapidinho. Nós os adotamos para realizarem inúmeros projetos de recuperação de áreas degradadas e os ajudávamos numa integração social. Com isso, fizemos uma mudança radical eliminando passivos ambientais e transformamos essa fábrica antiga, num belo exemplo.

Vamos convidá-lo para conhecer um dos inúmeros projetos em que eles atuaram. Vamos falar do projeto do heliponto, na Fábrica Santa Helena – Votorantim Cimentos, na cidade de Votorantim – SP. Precisávamos atender esse anseio de um dos acionistas que se deslocava de helicóptero, mas não tínhamos verba para isso! Foi aí que o seu Orcelio deu uma ideia, que me pareceu estapafúrdia quando me contou: transformar uma montanha de entulhos em um heliponto. Isso também iria fazer com que não recebêssemos multas de órgãos ambientais

Para conhecer o contexto, conto alguns detalhes preliminares que fazem parte desse projeto maior. Vamos retroagir para o ano de 1.999.

Por medidas econômicas imediatistas, todo descarte de restos de madeira, mangas de filtros, pneus, tambores, correias de acionamento de motores, vazamentos dos processos produtivos, lixos não orgânico e outros tantos materiais, foram sendo armazenados durante décadas, bem “grudado” à fábrica. Era uma montanha descomunal. De tão grande que ficou que quem se aproximava da fábrica, via primeiro essa montanha de entulhos e não as máquinas e equipamentos de uma Fábrica de Cimento que são muito altos.

Por outro lado, fomos enquadrados pela CETESB, para eliminar aquele passivo ambiental, com penalizações pesadas se não o fizéssemos dentro de um prazo limite.

Não precisaria falar da limitação de pessoas e de redução de custos, pois isto faz parte da sobrevivência de cada empresa. Não éramos exceção. Ainda mais essa fábrica que é a mais antiga da Votorantim Cimentos.

Como você solucionaria esse problema, de forma social e ambientalmente correta, mas de baixo custo?

Vou contar o que nós fizemos, de forma resumida!

Acabamos reunindo o útil ao agradável, adotando presos do regime semiaberto, onde a cada 3 dias de trabalho, reduzia um dia de suas penas. Nós fazíamos o transporte do presídio para a fábrica e vice versa, dávamos o almoço e pagávamos um salário mínimo que era enviado para as famílias deles. Depois passamos inclusive a dar suporte na saúde deles. Nós os ajudávamos na sua recuperação social e eles na nossa recuperação ambiental.

A fábrica entrou com todos os recursos materiais, máquinas e equipamentos e a logística. O coordenador desse projeto era o seu Orcelio, que era o comandante em chefe do grupo de limpeza e recuperação de áreas degradadas ambientalmente. Reviramos todo aquele entulho com trator de esteira, pá carregadeira, bob cat e caminhões, para retirar os materiais recicláveis e preparar a terraplanagem. Fizemos o descarte correto de tudo o que foi possível, gerando como subproduto, dinheiro que ajudou a financiar o projeto.

Aquele paredão que você vê na primeira foto, foi preparado adequadamente para uma hidro-semeadura posterior, visando dar estabilidade ao talude e embelezá-lo.

Aquele montão de entulhos virou o heliponto onde os acionistas poderiam pousar quando nos visitassem, além de outras visitas ilustres. Era também uma área de apoio para algum atendimento emergencial, caso fosse necessário.

Assim ficamos de bem não só com a Cetesb mas com a natureza que nos cercava, os acionistas e a sociedade, com um custo benefício excelente.

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