A Empresa como responsável social

Cada vez mais, consolida-se o conceito de que as organizações, além do seu papel de geradoras de produtos/serviços e de lucro, precisam também, desenvolver ações que as insiram num rol de empresas com responsabilidade social. Estas ações precisam ser desenvolvidas em um clima organizacional, onde seus colaboradores tenham plena condição de desenvolver suas habilidades profissionais e pessoais.

Há alguns anos atrás, ações isoladas neste sentido, mesmo que tímidas, eram mal vistas pela alta administração, ainda que os custos não fossem significativos e muitos de seus colaboradores desempenhassem estas atividades fora de sua jornada de trabalho.

Hoje, ao contrário do que ocorria, além das atividades voltadas para auxiliar a sociedade a superar algumas dificuldades que não estão inseridas em programas oficiais (Município, Estado, País), procuram divulgá-las, fazendo com que as comunidades em que estão inseridas, tomem conhecimento do que está sendo feito, melhorando sua imagem perante as demais organizações públicas e privadas, sociedade civil, fornecedores e clientes.

Atitudes como estas, podem ser entendidas como parte da estratégia de marketing empresarial. Existe até esta possibilidade, mas o que acontece, é que se a empresa não assiste pelo menos parcialmente as necessidades das comunidades em seu entorno, não está dando atenção também às necessidades de seus próprios funcionários e familiares, em carências prioritárias em que ela pode contribuir, pois estes também fazem parte efetiva desta mesma comunidade. Iniciativa privada, juntamente com o Governo (Municipal, Estadual e Federal), pode construir uma sociedade melhor.

É relativamente comum, que empresas/organizações queiram realizar algum projeto social, mas não sabem o que, nem como. Além disto, não levam em consideração que podem se beneficiar de uma redução do nível de impostos, dependendo do projeto que estiverem desenvolvendo.

Vamos relacionar alguns projetos que tivemos experiência por ter participado ativamente na sua implementação, que podem servir como gerador de novas idéias para suas empresas, de acordo com suas habilidades e recursos:

  • Divisão da planta industrial em “freguesias”, onde cada chefia se encarregava de cuidar e melhorar a imagem da área em seu entorno, contribuindo para um melhor visual de toda a organização. Nas horas em que havia ociosidade temporária, o colaborador estava previamente autorizado para desenvolver estas atividades (pintura de meio fio, poda de flores e árvores, plantio de flores e árvores frutíferas, coleta seletiva de lixo, limpezas de áreas comuns aos funcionários do setor, etc.) e dar sua contribuição para melhorar seu ambiente de trabalho.
  • Parceria com uma Penitenciária, onde internos em regime aberto, escolhidos dentro de critérios rígidos, passaram a integrar uma força tarefa para recuperar áreas de mineração degradadas, tornando-as regiões aprazíveis, com um belo impacto visual. A empresa, concedendo a oportunidade de um convívio com seus funcionários nos horários do café da manhã e no almoço, com assistência médica, treinamentos de segurança e preservação ambiental, teve um enorme ganho ao auxiliar a reintegração destes detentos na sociedade e resgatar sua dívida com o meio ambiente em áreas que havia degradado. Os participantes deste projeto, têm sua pena reduzida em 1 dia, a cada 3 dias trabalhados. Assim, Empresa e Sociedade acabam ganhando enormes dividendos.
  • Uma mina para exploração de pedra britada que serviu para a construção da fábrica, ao ser concluída, ficou abandonada por vários anos. Por outro lado, por degradação de áreas verdes (reflorestamentos, queimadas, vandalismos, furtos, etc.), várias espécies de orquídeas e bromélias estavam em fase de extinção. Foi desenvolvido um projeto de um orquidário e bromeliário, para proteção destas espécies e posterior replantio nas áreas onde primitivamente existiam. Ao mesmo tempo, foi desenvolvido um pomar, com espécies típicas da região, para atrair aves e animais que originalmente ali habitavam. Visitantes ficavam surpresos ao encontrarem em uma fábrica que explora recursos minerais, transformando sua mina, após exaurida, num viveiro de orquídeas e bromélias, protegidas por paredões de mais de 50 metros de altura.
  • Uma área degradada, com lixo, escombros, materiais descartados, etc, se transformou novamente em área verde, graças ao trabalho incansável destes presidiários. No topo da colina que havia servido de área de depósito de todo tipo de material inservível durante décadas, foi realizada uma completa revitalização dos seus taludes e encostas. O mesmo aconteceu com outras áreas, onde ruas internas foram transformadas em alamedas, terrenos afetados por erosão tiveram um recobrimento com grama, plantadas árvores em taludes para contenção do solo, criatório de peixes para pesca esportiva, recuperação de um campo de futebol que se transformou em uma área de recreação dos funcionários e da comunidade, construção de quiosques com churrasqueiras e recuperação de uma lanchonete que havia sido abandonada na beira de um lago e que virou uma excepcional área de lazer, e outros projetos.
  • Limpeza anual das margens de um rio que tem uma fábrica ali instalada, com a participação de outras empresas vizinhas, estudantes, funcionários com seus familiares, bombeiros, escoteiros, etc., retiraram toneladas de lixo que o poluíam. Uma antiga área interna da fábrica, onde uma construção em madeira abrigava uma marcenaria e estava em final de vida útil e depois de desativada, foi transformada em uma lagoa onde e os peixes típicos daquele rio se reproduziam e quando atingiam um tamanho em que poderiam sobreviver naturalmente, eram devolvidos ao rio, aumentando sua piscosidade. O lago, foi construído em mutirão, após o expediente, por voluntários que tinham alguma disponibilidade. Os pilares de concreto foram por eles fabricados e instalados.
  • Plantio de milhares de espécies nativas da Mata Atlântica, em áreas onde através de incêndios sucessivos provocados por campistas, balões, vândalos, destruíram tudo o que existia. Uma destas áreas pertencia à empresa e outra numa área pública que serve de mirante na bela cidade litorânea de Itajaí – SC.
  • Nos Estados Unidos, tivemos a experiência em trabalhar numa parceria com uma ONG, numa área muito pobre e degradada da periferia de Detroit – MI, onde descartavam tudo (motos, móveis, barcos, carros que incendiavam previamente, sucatas, pneus, etc). Reunindo funcionários da fábrica com seus familiares, vizinhos, estudantes universitários e outros voluntários, coletando e dando uma destinação adequada a dezenas de toneladas de detritos. Os recursos materiais (café da manhã, água/suco, luvas, sacos plásticos, pás, rastelos, pá carregadeira, bob cat, caminhão , etc.) colocados à disposição pela empresa, aumentou enormemente a produtividade dos voluntários, potencializando o bom resultado da operação.
  • Junto com Clubes de Serviço, como o Rotary International, desenvolver projetos de capacitação de mão de obra, reflorestamentos, limpezas de parques e jardins, pomares e hortas comunitárias em escolas públicas, bolsas de estudo, intercâmbio cultural, campanhas de vacinação e outros, tornando a comunidade mais agradável para se viver.
  • Após o desenvolvimento de projeto, submetido a aprovação de todos os órgãos ambientais e aprovado pela sociedade em audiência pública, a incineração de pneus inutilizados se transformam em combustível em fornos de clínquer, reduzindo a dependência de outros combustíveis mais nobres e em fase de extinção. Além do mais, reduzem os riscos de proliferação de moléstias, incêndios de grandes proporções (altamente poluidores) e degradação ambiental.
  • Incineração de toneladas de drogas em seus fornos, eliminando qualquer tipo de resíduo, contribuiu para livrar a sociedade de seu uso e ainda gerou uma economia de combustível. Este tipo de operação, trouxe notoriedade para a empresa não só no nível estadual, mas nacional, sem nenhum custo.

Poderíamos citar muitos outros, mas estaríamos fugindo da finalidade deste artigo, que é o de estimular ações locais na busca de uma melhoria mundial, através de voluntários (pessoas e empresas) que não se conformam com o estado atual. É difícil dar o primeiro passo nesta direção, mas uma vez iniciada esta gratificante jornada, não queremos jamais que um dia ela acabe.

Enfim, estar no rol de uma empresa cidadã, trás uma enorme satisfação para quem trabalha em algum dos projetos escolhidos e trás também o reconhecimento de sua vizinhança, de seus fornecedores, de outras comunidades e de seus clientes.

Autor: Lauro Rubens Duarte Volaco – Engenheiro Mecânico.
Empresa: IBC – Instituto Brasileiro para a Competitividade

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