Competitividade através da conservação de energia elétrica

É importante compreender o conceito de conservação de energia elétrica. Conservar energia elétrica quer dizer melhorar a maneira de utilizar a energia, sem abrir mão do conforto e das vantagens que ela proporciona. Significa diminuir o consumo, reduzindo custos, sem perder, em momento algum, a eficiência e a qualidade dos serviços.

Para falar sobre conservação de energia elétrica, vamos mostrar alguns dados e fazer pequenos comentários preliminares, para destacar a importância da conservação.



De acordo com o estudo Key World 2004, da Agência Internacional de Energia (AIE), o preço da energia elétrica no Brasil é o décimo mais caro do mundo, ficando atrás apenas da Suíça, Bélgica, Itália, Portugal, Áustria, Alemanha, Holanda, Japão e Dinamarca. O custo para produzir energia nas hidrelétricas, atualmente, varia entre US$ 35 a US$ 40 o megawatt-hora, entretanto, o preço da energia para o consumidor varia muito de estado para estado, afirma a AIE.

Mesmo o Brasil, sendo um país privilegiado por ter grandes reservas para geração de hidroeletricidade, sabe-se que os custos sócios ambientais, são altos: O deslocamento de famílias de áreas inundadas, no Brasil chega a aproximadamente 200.000 famílias.

  • Inutilização das melhores áreas para a agricultura.
  • Destruição de florestas, lagoas marginais e outros ecossistemas.
  • Destruição da fauna existente nos rios e nas áreas ribeirinhas.
  • Alterações significativas do regime hídrico dos rios.

O custo médio internacional para a geração de hidroeletricidade é de US$ 1 mil o kilowatt instalado, considerando uma taxa de desconto de 15%, adotada no mercado brasileiro, e um tempo de retorno de 15 anos, período para viabilizar financeiramente qualquer investimento no país.

Já basta de tantos números, pois até agora, informamos que gerar energia é caro e traz danos sócios ambientais graves.

Corremos cada vez mais riscos de colapsos de abastecimento de energia elétrica, por falta de investimentos e principalmente, feitos tardiamente, como é o caso do Brasil.

O grande trunfo que está em nossas mãos, é a eliminação ou no mínimo a redução de perdas (térmicas, mecânicas e elétricas) na transformação da energia primária em energia útil. Isto é válido tanto em casa, como nas grandes corporações, principalmente as industriais (dentre elas citamos as eletrointensivas: alumínio, cimento, ferro gusa, papel e celulose, que consomem 27% do total brasileiro).

Quando se fala em conservação de energia, logo se pensa em grandes investimentos em motores de alto rendimento com controles eletrônicos de partida, velocidade e freqüência, substituição de máquinas e equipamentos de baixa eficiência, elevação da voltagem a ser fornecida pelas concessionárias de energia, etc.
Queremos deixar de lado, estas tecnicidades, e sim, falar sobre uma experiência bem sucedida, na formação de uma CICE – Comissão Interna de Conservação de Energia.

 

  1. O primeiro passo, foi reconhecer que tínhamos 2 problemas: a) alto consumo específico de energia elétrica; b) alto valor da energia elétrica na composição do custo do produto.
  2. O Gerente Geral e o Chefe do Departamento de Manutenção Elétrica, fizeram um treinamento fornecido pelo PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, para conhecer as diretrizes gerais e experiências bem sucedidas de eliminação de desperdícios.
  3. Difundido o conteúdo do treinamento, para todas as chefias e líderes da organização, objetivando a conscientização para a formação da CICE.
  4. Cada chefia indicou um representante e foi nomeado como coordenador da CICE, o chefe de departamento da manutenção elétrica. Dentre estes representantes, havia pessoas da produção, manutenção, laboratório e controle de qualidade, suprimentos, refeitório, segurança. Não entravam neste grupo, aqueles representantes de CIPA, Associação de Funcionários, Cooperativa de Crédito e Sindicato, pois estes já tinham seus fóruns para serem ouvidos (isto não significava que suas idéias não fossem incorporadas).
  5. Todos os representantes da CICE, passaram por um treinamento, com o mesmo conteúdo repassado para as chefias e definido as regras que iriam reger suas atuações.
  6. Todos davam idéias durante cada reunião mensal, que eram registradas e analisadas, antes de serem implementadas. Quando ocorria uma idéia, entre as reuniões, o funcionário procurava o coordenador e a expunha para análise e ação de correção. Se uma idéia era inviável, todos ficavam sabendo as razões para não ter sido implantada.
  7. Cada setor da empresa era mapeado com o consumo histórico médio de 12 meses, do mês corrente e a média móvel dos 12 meses, para acompanhamento da evolução obtida com a aplicação das idéias apresentadas e implementadas. O mesmo ocorria com o consumo específico global da empresa. Estes resultados eram apresentados no Sistema de Gestão à Vista, onde toda a empresa podia acompanhar a evolução.
  8. Havia um ranking dos funcionários que mais haviam contribuído com idéias para a CICE, criando uma competição sadia entre os participantes.
  9. A cada ano, mudavam os representantes da CICE, gerando mais oportunidades e difundindo o sistema de gestão. O único participante que não mudava, era o Coordenador, para que não houvesse solução de continuidade e fossem alteradas as sistemáticas de funcionamento.

Maiores Benefícios:

  • Redução de custo.
  • Redução de consumo de energia elétrica (124 para 98 Kwh/t).
  • Maior vida útil de máquinas e equipamentos.
  • Maior produtividade.
  • Maior integração entre todas as áreas da empresa.
  • Geração de um sentimento de “dono do negócio” por parte dos funcionários.
  • Melhor limpeza e arrumação de toda a empresa.
  • Redução do número de paradas de máquinas e equipamentos.
  • Maior disponibilidade das máquinas e equipamentos.
  • Maior competitividade do negócio.
  • Baixo investimento.
  • Maior realização pessoal e profissional.
  • Menor risco de faltar energia para operar a fábrica.

A economia de energia elétrica gerada, de aproximadamente 20%, trouxe uma redução de gastos em valor presente, de US$630.000,00, com baixíssimo investimento. Isto demonstra que o envolvimento e comprometimento de todos os funcionários da organização, em torno de um objetivo comum (CICE), traz enormes dividendos.

Dependendo do interesse demonstrado por nossos leitores dos nossos artigos no IBC News, numa próxima oportunidade, estaremos falando sobre uma série de sugestões implantadas, com alguns casos que inicialmente, nem pareciam que tivessem correlação com conservação de energia. Para isto, entre em nosso site www.ibc-competitividade.com.br e nos envie seu mail com comentários sobre este artigo ou solicitando outras informações que julgar relevantes.

 

Autor: Lauro R.D.Volaco – Eng. Mecânico
Empresa: IBC – Instituto Brasileiro para a Competitividade

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