Inovação é resultado de processo bem estruturado, mas é também atitude.

Para a indústria do cimento, o tema inovação não pode ser visto apenas pelo ponto de vista tecnológico. As características específicas da atividade – que exige pesados investimentos em infra-estrutura e manutenção de baixos custos impõem a necessidade de inovar também em gestão.

É com base nessas duas vertentes – técnica e gestão – que a Votorantim Cimentos fomenta a inovação. A inovação técnica abrange toda a nossa cadeia produtiva , desde a adoção de modernas práticas de mineração até o desenvolvimento de produtos inéditos, como, por exemplo, o primeiro cimento colorido do mercado nacional e o concreto de altíssima resistência à compressão. Sendo uma indústria de base, onde os baixos custos garantem a competitividade dos negócios, é na matriz energética que estão as grandes novidades. Desde 1998 a Votorantim Cimentos utiliza 100% de coque com alto teor de enxofre em substituição ao óleo combustível, com grandes ganhos em eficiência. Foi uma operação de risco na época, já que não existia tecnologia disponível em nível mundial, somente experiências com baixo nível de substituição. O desenvolvimento de um modelo energeticamente eficiente e ambientalmente amigável envolveu técnicos da Votorantim Cimentos e fornecedores, e está gerando importantes economias anuais para a empresa.

O sucesso da substituição do óleo combustível fez com que as pesquisas por fontes alternativas se tornassem uma constante na Votorantim Cimentos. Hoje, a empresa analisa a viabilidade de uso das mais diversas substâncias, da palha de arroz ao resíduo de alumínio. Muitas delas já estão implantadas e os resultados mostram excelente potencial de benefícios para a sociedade já que, na maioria dos casos, essas substâncias seriam descartadas no meio ambiente. Além disso, obtém-se a redução do consumo de combustíveis não renováveis, como é o caso dos derivados do petróleo.

E gestão, o trabalho de pesquisa e desenvolvimento é igualmente sofisticado. Também aqui optamos por um modelo que mescla nosso capital intelectual com as melhores fontes de know-how disponíveis no mercado. Esta forma de trabalho tem o benefício adicional de contribuir para a solidificar uma cultura organizacional voltada à inovação – cuja ausência é, sem dúvida, um dos principais obstáculos para qualquer organização.

Um dos melhores exemplos de inovação tecnológica em gestão é o Gerenciamento por Projetos, que abrange toda a empresa e engloba os processos de avaliação, priorização, execução de projetos de melhoria e investimentos – da construção de uma nova unidade em projeto de redução de despesas de escritório. Hoje são mais de mil projetos em andamento na empresa – 350 deles de melhoria operacional, outros 700 de investimentos. A previsão é que eles tragam um retorno de R$100 milhões anuais. Graças a esta metodologia, a Votorantim Cimentos obteve substancial redução de custos de implantação de suas operações na América do Norte. E ainda conseguiu gerar divisas para o País, pois adquiriu, de fornecedores brasileiros, a maior parte das máquinas e equipamentos em operação nas unidades do exterior.

Outro exemplo de inovação tecnológica em gestão é o Votorantim Cimentos Production System(VCPS). Adotar um sistema de negócio não é uma novidade em si. Mas, no nosso caso, essa tecnologia de gestão provou ser o diferencial competitivo para a expansão de nossas operações. Desta forma, eventuais aquisições, por exemplo, passam a ser analisadas pelo potencial de ganho que nossa metodologia de gestão proporciona, entre outros fatores.

A inovação em gestão depende mais da cultura organizacional da empresa do que de recursos ou financiamentos. Por cultura organizacional, devemos entender não só o texto de nossas missões, valores e princípios corporativos, mas principalmente as crenças, atitudes e foco em resultados e melhoria contínua que viabilizam um comportamento inovador. Neste quesito, a gestão do conhecimento de pessoas, carreira, coaching, gestão do conhecimento, enfim, todas estas tarefas tão rotineiras mudam totalmente quando o foco é inovação.

Por outro lado, quando o assunto é inovação técnica, enfrentamos outros desafios. Aqui prevalece a questão do incentivo público ao investimento, os problemas regulatórios e fiscais e, no caso específico da indústria de construção, a baixa especialização da mão-de-obra, que inibe o aumento da produtividade da indústria da construção -responsável por uma parcela representativa do PIB- e, portanto, as possibilidades de crescimento do país. A solução encontrada para contribuir com as alterações deste cenário foi a união de forças. Dentro do setor cimenteiro, o esforço conjunto se dá nas frentes técnica e de mercado, por meio de duas entidades com papéis destintos: a Associação Brasileira de Cimento Portland, responsável pela disseminação de novas técnicas de uso do produto, e o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. Recentemente os esforços conjuntos ganharam uma nova frente de atuação, com a criação da Associação Brasileira para formentar o mercado de construção habitacional.

É preciso ser tecnologicamente inovador na engenharia financeira de um projeto, na gestão dos recursos humanos, na representação setorial – e também em processos e produtos. Esta é a lição que o mercado de cimento tem a oferecer a outros segmentos da produção: inovação é uma atitude, não uma atividade.

Artigo publicado na Revista Fórum de Líderes Empresariais – Nov/04

Autor: Luiz Vilar de Carvalho – Ex-presidente Mundial da Votorantim Cimentos e atualmente membro do Conselho do Grupo Votorantim.
Empresa: Votorantim Cimentos

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