O termo “competitividade” tornou-se lugar comum na agenda da quase totalidade dos executivos e administradores no Brasil e no mundo. Não há dúvidas de que o único caminho viável para a sobrevivência na selva do mercado é atingir elevados patamares de competitividade, o que se traduz por baixos custos, altíssima eficiência operacional e algum nível de diferenciação. Neste contexto, a pergunta crucial talvez seja: mas afinal, de que forma é possível impulsionar o nível de competitividade de indústrias e setores elevando-os ao patamar de “classe mundial”?

Respostas a esta pergunta proliferam na literatura corporativa. As receitas clássicas passam por iniciativas de redução de custos aliados a ganhos de produtividade e qualidade. Entretanto, se tais fatores representaram um dia diferenciação, hoje não passam de pré-requisito para entrar no jogo. Cada vez mais, as modernas tecnologias, os softwares de gerenciamento da produção e os avanços nas áreas de robótica e automação tornam-se instantaneamente disponíveis a todo o conjunto das empresas atuantes em um determinado setor, e desta forma, passam a ser uma mera commodity. A competição baseada em custos – a primeira das formas de posicionamento competitivo preconizadas por Michael Porter, até hoje um dos autores mais respeitados quando o assunto é competitividade – torna-se cada vez mais difícil.

Neste cenário, a alternativa possível e desejável parece ser, como também preconizava Porter, a da diferenciação. E aqui sim, entramos numa seara que apresenta alternativas para busca de competitividade a partir de valor efetivamente agregado para o consumidor. Exemplos não faltam. Empresas como a Apple se reinventaram com base no design e inovação atrelados aos produtos, sem necessariamente a preocupação de praticar o menor custo. A Ideo, uma firma californiana atuante na área do design e desenvolvimento de produtos, tornou-se a mais competitiva e admirada empresa do mundo na sua área com base em times de trabalho heterogêneos e no uso intensivo da criatividade. Este argumento ganha reforço no discurso de autores contemporâneos, como Giovanni Dosi, que postulam que a competitividade de uma empresa está relacionada à sua capacidade de perceber oportunidades, introduzir, difundir e se apropriar dos ganhos auferidos pelo progresso técnico. Em outras palavras, está relacionada com a sua veia criativa e a sua capacidade de identificar e explorar oportunidades antes dos seus competidores, uma vez que a capacitação das firmas para empreenderem inovações passou a constituir fonte primordial das vantagens competitivas.

Entretanto, quando falamos em competitividade, é importante considerar que embora não exista competição entre países e regiões, e sim entre empresas – não existem nações competitivas, porém, nações com produtos ou empresas competitivas – ainda assim o Estado também tem um papel fundamental neste processo, atuando com o intuito de potencializar o que se convencionou chamar de competitividade sistêmica. Basicamente, por mais eficiente e criativa que seja a administração de uma empresa, ela jamais poderá se divorciar do ambiente no qual irá operar. Por esta razão, a competitividade perdeu o caráter de fenômeno intrínseco à empresa, tornando-se um fenômeno simultaneamente extrínseco ao localizar-se, também, na estrutura industrial e no meio ambiente.

Dentre os fatores sistêmicos de competitividade, encontramos os político-institucionais (estabilidade das instituições, qualificação da população, perenidade e respeito às regras estabelecidas), os macroeconômicos (políticas econômica e fiscal) e as questões relacionadas à infra-estrutura e logística. E neste quesito, recente estudo da CNI e do SEBRAE apontam para a realidade de que, se progressos significativos têm sido feitos nos indicadores de competitividade internos à indústria brasileira, as variáveis que extrapolam a governança das empresas têm ainda um longo caminho a percorrer, em especial aquelas relacionadas à infra-estrutura e tributos.

Como se percebe, o fenômeno da competitividade é complexo e multifacetado. Não é possível estabelecer regras genéricas e tampouco criar soluções mágicas que permitam alavancar a produtividade das empresas brasileiras da noite para o dia. O desenvolvimento de setores e grupos de setores competitivos é um esforço conjunto que de um lado, exige que as empresas brasileiras busquem posicionamentos diferenciados com uso intensivo de criatividade e desenvolvimento de percepção aguçada para captar oportunidades de mercado antes dos competidores internacionais – sem esquecer, evidentemente, do trinômio “qualidade – produtividade – baixo custo” –, ao mesmo tempo em que o poder público precisa compreender e assumir o seu papel de catalisador da mudança necessária no conjunto de variáveis sistêmicas, atuando de forma estratégica e com visão de longo prazo. Senão o único, este seguramente constitui um dos caminhos viáveis para tornar a indústria brasileira mais competitiva.

Autor: Reinhold Stephanes – Economista e Secretário do Planejamento e Administração do PR
Empresa: Secretaria de Estado do Governo do Paraná